Distrito de Outeiro é abandonado por Zenaldo

Cruzada a ponte sobre o Rio Maguari, o que se identifica em muitos pontos de Outeiro é o descaso. Sem que seja necessário alcançar o interior do distrito, os problemas começam a ficar evidentes logo na entrada, nas ruas transversais tomadas pela lama e esgoto a céu aberto. Os famosos três “s” do então candidato Zenaldo Coutinho nem de longe passaram pela ilha. À ausência de saneamento básico somam-se a insegurança, a falta de saúde e a precarização dos serviços de transporte.

Na tentativa de melhorar a moradia, o pedreiro Augustino Pereira de Souza gasta todas as energias possíveis na construção da casa nova. Apesar do esforço diante do sol quente do meio da manhã, a perspectiva de melhora também da rua onde está localizado o imóvel é nula. Do muro de tijolos parcialmente levantado, o que se vê é o extenso tapete de lama por onde é obrigado a andar. “Quando chove é só água. Aqui é sofrido... bastante”, resigna-se, diante da total ausência de asfaltamento da Passagem das Flores, na Comunidade Fidélis. “A gente acaba tendo que viver nessas valas. É o tempo todo com o pé na lama”.

Morador do distrito já há 26 anos, o senhor de 60 não nega que já pensou em se mudar de Outeiro por várias vezes, apesar do carinho cultivado pelo local ao longo de toda a vida. Amargando o descaso em vários serviços básicos, toda a tranquilidade conquistada no local fica ameaçada. “Há muitos anos eu tô aqui em Outeiro. Desde quando não tinha nem nada aqui nessa parte”, recorda. “Aqui é demais assossegado, é bom demais, mas já pensei em ir embora daqui para Icoaraci porque não tem quem olhe pela gente”.

Apesar de ter a rua principal asfaltada, praticamente todas as passagens que se ramificam a partir da avenida Jader Barbalho padecem com o mesmo problema. Sem asfalto ou serviço de esgotamento, as ruas são tomadas por buracos e poças de lama até mesmo nos dias de sol forte. Como se não bastasse a lama espessa, a vala repleta de dejetos acompanha as curvas das ruas pela lateral.

TRANSPORTE

Em situação bastante precária, apesar de interligada com a também asfaltada rua Nossa Senhora da Conceição, a passagem Alagoinhas só permite passagem por cima da ponte de madeira improvisada pelos próprios moradores. Vencida a caminhada na companhia do neto Lucas, de apenas três anos, a dona de casa Euronildes de Araújo é levada a vivenciar outra grande dificuldade no distrito. “Ônibus aqui é quase impossível pegar com criança. Vem tudo muito lotado que a gente nem consegue mais subir. É claro que a quantidade é insuficiente pro tanto de gente que mora aqui”, conclui com facilidade. “Além de ter que andar por cima de ponte porque alaga tudo, ainda é uma agonia pra conseguir pegar um ônibus. Tudo aqui é precário”.

Sem que a quantidade de linhas e de ônibus seja suficiente para atender a população de Outeiro, a única saída encontrada pela senhora de 53 anos e por muitos outros moradores é a utilização de vans. “A gente fica esperando para ver se passa uma van porque não tem como pegar ônibus aqui. Outeiro é uma calamidade”, indignava-se. “Não tem serviços, tudo o que a gente precisa fazer a gente tem que ir para Icoaraci. A gente fica esquecido aqui. Falta estrutura, falta saneamento e as grandes redes de farmácia e de serviços nem vêm para cá por isso. Até para comprar determinado remédio numa farmácia grande tem que ir para Icoaraci”.

Morador da rua Frank de Menezes, o comerciante Ronaldo Rodrigues destaca que é praticamente uma única linha de ônibus que atende toda a população. “O transporte é o principal. O pessoal tem que ficar quase uma hora esperando ônibus e, quando passa, ainda dá prego. Tem vezes que a pessoa pega dois ônibus e os dois pregam antes de a pessoa chegar em Belém”, aponta. “Aqui só tem praticamente o Outeiro/São Brás (linha de ônibus) porque o Pratinha é como se não tivesse. Tinha que ter era mais concorrência aqui para acabar com isso, mais linha de ônibus. As vans não têm segurança e cobram o preço de duas passagens em uma. Sem falar que a maioria das vans é mais pra Icoaraci”.

SAÚDE

É em Icoaraci também que a comerciante Maria Natal precisa buscar atendimento de saúde. Ainda que moradora de Outeiro, onde estão instaladas unidades de urgência e emergência, não é raro que ela precise se dirigir ao distrito vizinho para ser atendida. “Às vezes, a gente tem que ir pro (hospital) Abelardo Santos para conseguir atendimento”, afirma. “À noite eles dizem que fica a urgência 24h, mas, quando tu vais lá procurar, não tá funcionando, tá fechado e tu tens que ir bater lá em Icoaraci, no Abelardo Santos”.

INSEGURANÇA

Dona de um comércio nas proximidades da Praia Grande, uma das mais conhecidas pelos banhistas que se dirigem ao distrito no veraneio e aos fins de semana, Maria confirma que a precariedade atinge também as áreas mais movimentadas de Outeiro. Indiferente ao grande fluxo de pessoas nas redondezas em busca dos balneários, o descaso só se agrava. “Toda hora a gente vê assalto por aqui”, comenta, ainda que o temor pelo assunto não lhe permita falar muito. “A insegurança aqui tá demais. A gente já não sabe nem se deve sair de casa”.

DESCASO

A precariedade de serviços como saneamento básico, transporte, saúde e segurança complica a vida dos moradores de Outeiro. Apenas alguns dos problemas, diariamente a população é obrigada a conviver com alagamentos e insuficiência de ônibus urbanos.

(Diário do Pará)