Deputado fez manobra contra cassação na Câmara

Na Câmara dos Deputados, Wladimir Costa é considerado “um bom amigo”. Na última semana de trabalho da Casa Legislativa, o parlamentar paraense acabou também levando a fama de ser “o bom velhinho”, em uma alusão ao período de Natal e ao Papai Noel, símbolo das comemorações natalinas. O apelido foi dado à Wlad pelo colunista do jornal “Folha de São Paulo”, Bernardo Mello Franco. De acordo com o jornalista, o deputado Luiz Argôlo (SD/BA), “ganhou um presente antecipado neste Natal”.

Argôlo foi flagrado trocando exatos 1.411 torpedos no período de sete meses com o doleiro Alberto Youssef, principal operador da engrenagem do desvio de dinheiro público na Petrobras e que está preso. Investigações da Polícia Federal revelaram que Luiz Argôlo mantinha uma relação mais que fraterna com Youssef. Os diálogos transcritos pela PF mostram conversas entre o parlamentar e o doleiro tratando de licitações e de depósitos de dinheiro nas contas de parentes de Argôlo.

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados decidiu cassar o mandato de Argôlo, o que o tornaria inelegível por oito anos. Integrante do Conselho, Wladimir Costa votou contra a cassação. Voto vencido, Costa partiu para uma nova manobra: conseguiu assumir uma vaga de titular na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, última instância na qual o processo de cassação de Argôlo seria analisado.

Na primeira reunião em que participou e última sessão da atual legislatura, Wladimir Costa pediu “vistas” ao processo, alegando, entre “um milhão” de razões, não ter conhecimento do conteúdo do processo, que ele havia discutido exaustivamente no Conselho de Ética. Como era a última sessão e não haveria mais tempo para retomar a votação, Luiz Argôlo acabou se livrando da cassação graças ao “bom amigo e bom velhinho” Wladimir Costa.

FAVORES

Mas esta não foi a primeira investida de Wladimir Costa para evitar a cassação de colegas flagrados em algum tipo de atividade irregular. Em 2009 Wlad votou contra a cassação do deputado Edmar Moreira, que ficou famoso por ter um castelo avaliado em R$ 25 milhões na cidade de São João Nepomuceno, em Minas Gerais. O castelo não consta na declaração de Edmar ao Imposto de Renda. Ele alega que o imóvel estaria no nome de seus filhos.

Edmar foi flagrado por contratar serviços de suas próprias empresas de segurança - Itatiaia e Ronda - com sua verba indenizatória de maio de 2007 a janeiro de 2009. A verba indenizatória, de R$ 15 mil por mês, deveria auxiliar o deputado em gastos ligados à função. Ele usava o dinheiro integralmente para contratação de suas empresas e Wlad mais uma vez alegou “um milhão” de razões para não cassar o colega.

Em 2011, depois de ter sido flagrada em uma filmagem recebendo dinheiro de suposto esquema de “caixa 2”, a deputada Jaqueline Roriz contou com a ajuda de Wladimir Costa, que também pediu vistas ao processo de cassação da parlamentar. Mas nem suas milhares de razões foram suficientes para evitar a cassação.

Ainda em 2011, o Conselho de Ética da Câmara decidiu arquivar, por 16 votos a 2, o caso do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) sem sequer abrir investigação. O relator, Fernando Francischini (PSDB-PR), pediu ao colegiado a abertura do processo de investigação para posterior cassação, mas os integrantes do Conselho, entre eles Wladimir Costa, decidiram que não havia por que investigar Valdemar, que hoje está preso, acusado no esquema do mensalão.

“Essa representação é pirotecnia, denuncismo barato”, bradou Wladimir Costa na reunião que derrubou o parecer do relator. Sua frase ficou famoso na mídia nacional.

Em 2013 o Conselho de Ética da Câmara rejeitou, por 12 votos a três, o parecer pela cassação de mandato do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), que respondia a um processo por quebra de decoro parlamentar pelo seu envolvimento com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Wladimir Costa registrou seu voto contra a cassação também alegando, mais uma vez, “um milhão” de razões.

(Diário do Pará)